A Igualdade de Género e a Escola

As Mulheres Invisíveis


“Sobre a recente noticia- A igualdade de género (entre outros) estará entre os temas que serão de abordagem obrigatória em todos os ciclos de ensino, a parir deste ano lectivo em algumas escolas piloto”

Excelente iniciativa! Mas não basta “atirar” com mais conteúdos para os Currículos já extensos d@s alun@s. Assim, como se as mentalidades se educassem com “temas obrigatórios a dar na escola”

Para já não confundamos Igualdade de Género com outra coisa. Os géneros não são iguais e há 3 - O Feminino, o Masculino e o Terceiro Género, mas adiante, que esse tema será para outro dia.

Ou seja – o que se pretende é educar @s jovens para a Igualdade de Oportunidades, de Direitos, de Deveres e de Presença Social na comunidade, INDEPENDENTEMENTE do seu género.

Ora, se não se fizer uma revisão nos currículos e nos programas, será difícil mostrar @s jovens que as Mulheres e o Homens estão actualmente no mesmo patamar de acesso seja no trabalho, na família, nas carreiras, no acesso à cultura em geral.

Por exemplo e é disto que vos quero falar – O programa de Português do 12º ano. Vejamos a presença das Mulheres na Literatura. 

O panorama actual ( programa “novo”, enviado para as escolas há dois anos) pode organizar-se desta forma: Divide-se em 6 unidades. (Dá mais jeito por causa dos períodos lectivos e porque os professores têm de encaixar aquela matéria toda nas aulas, na cabeça d@s alun@s e ainda por cima prepará-l@s para um exame que não é pêra doce.

Três das unidades são ocupadas com a obra de Fernando Pessoa. (Não há mulheres reais no Pessoa, e as que há são idealizadas, incorpóreas e intocáveis, fazem parte do imaginário do poeta; minto… Há duas na Mensagem – Epopeia Moderna e simbólica, que retracta os nossos heróis míticos – D. Taareja que é celebrada por ser mãe de D. Afonso Henriques e D. Filipa de Lencastre, que embora tenha sido uma das Rainha mais cultas da Idade Média, e ter assumido por vezes o exercício do governo, na obra Mensagem é valorizada como “Ventre do Império”, ou seja  a mãe de Homens Ilustres.

Mulheres ilustres, cultas, corajosas, determinadas, transformadoras de pensamento e visionárias… Não aparecem em lado nenhum. (Mas garanto-vos que houve e há).

Noutra Unidade ensina-se uma das obras de José Saramago - (O Ano da Morte de Ricardo Reis, um Romance ficcionado ficção sobre um dos heterónimos do Fernando Pessoa. Há duas personagens femininas no Livro – Mercenda, uma aparição; um fantasma e Lídia, uma criada de quarto de hotel que é descrita assim - Ele poeta, ela por acaso Lídia.

Ambos os escritores, Pessoa como Saramago são pilares da literatura portuguesa. E @s alun@s irão passar o ano quase todo ocupados com estes dois autores.

Noutra unidade, os professores poderão escolher um conto de alguns autores sugeridos; e finalmente numa outra unidade analisam-se poemas e portas portugueses contemporâneos – J. Cena; M. Torga; M. Alegre; E. Andrade; A. O’Neil.

Apenas nestas duas ultimas unidades (que serão dadas em poucas aulas, porque não há muito tempo para isto tudo mais a gramática que tem de ser toda revista e decorada para o exame) surgem excertos da obra de duas Mulheres, 
Excelentes escolhas ambas, (mas APENAS como opção de escolha pela escola). Os seus nomes surgem “encaixados” na lista de obras literárias a conhecer pel@s jovens. E a serem escolhidas pelas escolas, estas autoras terão umas duas ou três aulas para serem apresentadas aos alunos. - MARIA JUDITE DE CARVALHO (1921-1998) escritora e jornalista, antifascista que lutou pela liberdade de expressão e contra a censura e ANA LUISA AMARAL (1956-) poetisa, tradutora e professora Universitária e especialista em Estudos Feministas.

De resto, um enorme vazio. Não há nenhuma referência a nomes como Teresa Horta, Natália Correia, Lídia Jorge, Teolinda Gersão, Yvete Centeno, Maria Isabel Barreno, Fiama Hasse Pais Brandão, Helia Correia, Luiza Neto Jorge e tantas outras Mulheres Portuguesas que se destacaram na Literatura e Culturas portuguesas.

Como explicar às Meninas e Meninos que há Igualdade de Género? El@s já sabem que temos tod@s os mesmos direitos, mas e a presença das Mulheres? Os Modelos a seguir? O papel representativo da Mulher onde está? 

Mas que mensagem subliminar é esta que damos às/aos noss@s jovens na Escola no século XXI?
Os agentes culturais, os grandes pensadores, escritores e poetas, os nossos heróis que fizeram a nossa Historia comum, os modelos a seguir de bravura, coragem e honestidade, são na sua maioria Homens?

E as Mulheres? Onde estão as nossas Grandes Mulheres nos nossos currículos escolares?  

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