A propósito da grande
polémica da entrevista de um médico conceituado e conhecido a um jornal e do
rio de tinta e opiniões que para aí vão.
Não sou médica, tenho
alguns conhecimentos de psicologia e sexologia e acima de tudo sou Mulher a
viver no séc. XXI. E cá vai a minha opinião:
Diz o senhor em
entrevista - Não vou tratar mal uma pessoa porque é homossexual, mas não aceito
promovê-la. Se me perguntam se é correto? Acho que não. É uma anomalia, é um
desvio da personalidade. Como os sadomasoquistas ou as pessoas que se mutilam.
Lida a plémica nos meios
de comunicação social sobre estas afirmações, acho estranho que ainda ninguém
se tenha pronunciado sobre os 3 conceitos que são metidos na mesma frase, como
se fizessem aparte do mesmo “pacote” (médico e social)
1º Conceito - Homossexualidade
- a 17 de maio de 1990 a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a
homossexualidade da lista internacional de doenças.
Durante muitos séculos a
atracção pelas pessoas do mesmo sexo foi vista pela sociedade, pelas religiões
como algo “anti natura”, perverso ou ainda pecaminosa. Os homossexuais foram
reprimidos, perseguidos, incompreendidos e mortos. Houve até tentativas médicas
no passado de “curar” esta “doença”. Até ao final do século XX, a
homossexualidade era considerada pela comunidade médica como uma “doença
mental”.
Mas depois de estudos,
muitos estudo e conclusões de muitos profissionais ligados à área da Saúde e
Sexologia, a 17 de maio de 1990 a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a
homossexualidade da lista internacional de doenças. (que nunca o foi).
Hoje em dia temos a
certeza que o desejo sexual por uma pessoa do mesmo sexo, não é uma doença, ou
uma anormalidade, e muito menos uma parafilia.
Mas não se muda por
decreto a mentalidade, o preconceito nem o Medo das pessoas.
2º Conceito - “Sadomasoquistas”
– Prática sexual cujo nome nasce com Marques de Sade, escritor e filósofo do
sec. XVIII. Donatien Alphonse de Sade nas
suas obras, como livre-pensador, usava o grotesco para tecer suas críticas
morais à sociedade urbana. Ainda hoje não é um autor de fácil leitura ou compreensão,
mas foi inspiração para vários autores do movimento surrealista.
O termo médico sadismo - define
a perversão sexual de ter prazer na dor física ou moral do parceiro ou
parceiros. O Sadismo sexual pode ser considerado uma parafilia (padrões de
gratificação sexual em que o prazer não está directamente associado à cópula em
si e que em casos de abuso a terceiros ou perturbações do próprio é considerado
desvio sexual – logo objecto de tratamento psicológico). Este comportamento é
considerado pela classificação de desvios sexuais como uma pratica de minorias eróticas.
(Voltarei ao tema das parafilias
que é importante, mas em NADA a homossexualidade é uma parafilia.)
NO ENTANTO - A cultura
BDSM (Bondage, Discipline, Dominance, Submission, Sadism, Masochism) e a sua
prática pode ser um fetiche ou uma fantasia de gratificação sexual e quem a
pratica em segurança e com mútuo consentimento não precisa de tratamento. Neste
caso, não há abuso, há consentimento entre adultos e se há consentimento e
gratificação entre duas pessoas, não requer tratamento nenhum. (outro tema que fica em agenda...).
3º Conceito - “Cutting”, ou Automutilação é uma perturbação
grave que atinge principalmente adolescentes e que envolve um enorme
sofrimento. Estes jovens deferem golpes no corpo para atenuar o sofrimento psicológico
em que se encontram e requerem tratamento médico e psicológico.
Para mim é grave
misturar estes conceitos todos.
Nascemos seres sexuais e
com necessidade de nos relacionarmos sexualmente com os outros. Chama-se a essa
vontade de nos unirmos com outro de líbido ou desejo. Há seres humanos que
sentem desde cedo uma atracção por pessoas do sexo oposto. Há pessoas que
sentem desde cedo um desejo sexual por pessoas do seu sexo. Há também pessoas
que sentem desejo e atracção por pessoas dos dois sexos e ainda há pessoas que
não sentem atracção sexual, nem necessidade de se unirem sexualmente a outras.
Há pessoas que desejam
explorar a sua sexualidade física, mental e espiritualmente com práticas de
acordo e consentimento com os/as, seus / suas parceiros/as.
Temos medo do que não
conhecemos. Se toda a vida conhecemos apenas um tipo de atracção e união
sexual, como explicamos o que não conhecemos? Isto para as pessoas que vivem uma
sexualidade que corresponde à maioria – heterossexual. Para as pessoas que
desde a puberdade sabem que o seu desejo, a sua libido se dirige a pessoas do
mesmo sexo e se não encontram aceitação, compreensão e normalidade nos olhares
a que é sujeito, torna-se um inferno.
E a palavra HOMOFOBICO, o
que não aceita e rejeita e odeia as pessoas homossexuais, significa apenas MEDO
(fobia) da HOMOSSEXUALIDADE.
Quando toda a gente
deixar de ter medo do que não conhece, e tentar perceber a diferença de si
próprio, não olhar os outros como espelho de si, os preconceitos começarão a
cair.
Fotos de Carl Warner(
bodyscapes)
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