Os “amigos” do facebook

A propósito dos lamentos dos comentadores no facebook sobre a falta de solidariedade dos seus “amigos” que nem reparam quando eles estão ausentes da rede social por uns dias, ou da magna polémica sobre o “peido” do Salvador Sobral ou outras coisas muito importantes que se passam no nosso país.

A ironia disto tudo é que muito do que ocupa horas de vida das pessoas à frente do computador ou telemóvel em nada contribui para o bem-estar social ou emocional de todos nós. 
Mas escrevem-se comentários inflamados, assistimos a discursos de ódio, e somos por vezes tentados a participar nas imensas discussões, como se fossemos salvar o mundo da catástrofe.

Ora, minhas amigas e amigos, catástrofe foi a que assistimos no nosso pais em que se perderam vidas humanas, em que houve famílias inteiras dizimadas, em que populações inteiras perderam tudo o que possuíam, e temos um pais de luto e concelhos enterrado em cinzas.

E convençam-se que nesta  coisa das redes sociais,  que os “amigos” não são amigos. São meros contactos virtuais que se podem aceitar na página, se podem excluir, ou bloquear, dar importância ao que escrevem ou pura e simplesmente ignorar.

Já isso, de ignorar o que se passa à nossa volta, isso, acho eu, não podemos. Podemos sim seleccionar o que queremos publicar das nossas vidas e o que queremos saber das vidas alheias. Podemos seleccionar as opiniões que queremos tornar públicas e podemos seleccionar as opiniões alheias. Cada rede social que temos no nosso mundo virtual é aquilo que fazemos dela. Ninguém tem uma página de facebook igual, e ninguém lê as mesmas notícias, ou pensamentos, ou sabe exactamente o mesmo do que se passa à sua volta.

Cada um de nós é responsável pelas opiniões que publica. Apenas isso. E de amigos, esqueçam, porque ninguém tem 3 mil amigos. São contactos que podemos excluir quando quisermos. O que não podemos é excluir-nos a nós próprios da responsabilidade de sermos cidadãos. Nem podemos excluir os verdadeiros amigos. Esses, não precisam de estar nas nossas redes sociais. Estão na nossa vida, ao nosso lado.

Por isso, eu escolho não ler comentários de “haters”, quem destila ódio, sentindo-se donos da verdade, mas aproveitando acções, situações alheias para dar opiniões que vão acumular ódios desnecessários. Devo dizer que sobre o Salvador Sobral e a sua frase “e se eu desse um peido” em plena televisão, num espectáculo cujo objectivo era angariar fundos para as vítimas da catástrofe em Pedrogão Grande, o que me menos me importa saber é se ele deu ou não o tal “peido”. E já assisti a programas de televisão em horário nobre muito mais escatológicos que isto. Gostava muito mais que publicassem quanto dinheiro foi angariado, como vai ser usado e agradecessem a quem participou com o seu trabalho e boa vontade.


Eu, por mim, estou grata a quem ajuda o próximo. Tudo o resto são faits divers que só interessam a quem se preocupar com questões de marketing. 

Comentários

  1. Tal e qual, Tereza!!
    A maioria das pessoas está mais chocada com o "pum" do Salvador, do que com as 64 pessoas que morreram num incêndio...
    Sabes que mais? Quanto mais conheço as pessoas mais gosto dos animais.

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    1. De facto acho triste que um "fait divers" que não acrescenta ou tira nada à felicidade alheia, ou seja, é uma coisa que como diz o povo "não vale um peido" faça correr mais tinta e preocupe mais as pessoas, fazendo-as esquecer numa semana a perda de vidas e a reconstrução de um pais ferio de morte e coberto em cinzas... Embora sejamos um povo solidário quando é preciso, não precisamos de ser um povo maledicente a este ponto...

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