Vamos lá falar de estereótipos machistas!!!

Vem o meu texto a propósito de uma notícia da nossa política nacional – “A presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, assinou no domingo, 14 de maio, um acordo de coligação com o MPT (Partido da Terra) e o PPM (Partido Popular Monárquico), para a candidatura autárquica a Lisboa.”


Já há algum tempo que nenhum político se atreve a proferir alguma frase contra a igualdade de género – assim à descarada, tipo, não queremos as Mulheres ao lado dos Homens a gerir os destinos do Pais. Era o que faltava. Caia o Carmo e a trindade e o desgraçado era vilipendiado em praça pública. Mas era capaz de ser mais honesto do que isto:

O VP do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, começou por elogiar a "experiência académica, social e política" da presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, mas considerou que, "acima de tudo", a candidata é "uma mulher casada, que provou, como a maioria das portuguesas pode trabalhar e ter filhos", já que "não descurou o trabalho e não descurou a casa".
O vice-presidente do PPM alegou, durante o seu discurso, que a candidata, Assunção Cristas, enquanto mulher, "sabe bem que, para se trabalhar, não se pode usar espartilho nem a saia travada, a saia tem de ser larga e, se necessário, vestir calças ultimamente não se sabe onde andam, custam a ver”.

O mais grave é que por muito que a gente se ria com estes "fait divers", enquanto nos vamos esquecendo de Fátima, dos 3 pastorinhos e do Benfica, mais do nosso Salvador, o desejado, estes marialvas machistas continuam subliminarmente a mandar estas pérolas fabulosas - sejam boas Politicas, ó Mulheres maravilhosas, desde que continuem a ser boas esposas, mães e assegurarem a vossa função de fadas do lar. No fundo, no fundo é lá que é o vosso lugar...

Ora bem. Este discurso bem analisado dava para uma tese de mestrado sobre estudos Femininos ou sobre Machismo Básico e Primário. O Discurso do V.P do PPM, tornou-se já viral na internet e sujeito a críticas, piadas e algumas crónicas sérias sobre a opinião completamente desrespeitosa e machista do senhor. Que acredito que nem se tenha apercebido ainda das críticas de que é alvo, porque essa é a sua cultura, a do homem português machista, que continua a achar que o lugar da mulher é em casa a cuidar dos filhos, mas vai tolerando que algumas mulheres se destaquem, desde que continuem a ser fadas do lar. E façam tudo bem feitinho, e ainda se vistam com decoro e contenção.

A frase “se necessário, vestir calças ultimamente que não se sabe onde andam”, diz-nos tudo sobre a cultura que está  por detrás deste discurso que aparentemente elogia UMA MULHER. Este senhor ainda usa a metáfora de “quem usa as calças lá em casa”. Está tudo dito. Se uma MULHER quiser ter um trabalho igual a um homem deverá “vestir as calças”, ser um Homem no local de trabalho e “vestir a saia” no seu papel de esposa e mãe.

Não há nada de mais estereotipado e perigoso do que este tipo de observações.
As Mulheres conquistaram ao longo de muitos anos de luta, sofrimento e esforço o direito de poderem escolher o que querem ser, onde querem estar, o que querem fazer da sua vida, da sua carreira. 

Podemos ter inúmeros papéis. Poderemos fazer tudo. Ou poderemos escolher e ter apenas um. Nada nos obriga a cumprir os papéis que os Homens nos atribuíram ao longo dos tempos. E não precisamos que os homens nos validem dizendo-nos: “não descurem o trabalho e não descurem a casa”.

O trabalho é nosso, a casa é nossa, os filhos são nossos. E o direito de os ter ou não é nosso.

E no fim de isto tudo, ainda mais grave é o facto de uma Mulher, por razões politicas (ou não) validar esta idiotice machista e responder com esta frase que esta sim é tão ridícula que nem merece mais uma linha – “E, em resposta ao vice-presidente do PPM, Assunção Cristas disse que tem "calçado botas e calças de ganga muitas vezes, para estar nos bairros sociais junto das pessoas (…)”


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