Olho por olho, e o mundo
acabará cego.
Mahatma Gandhi
Revisão da matéria dada. Faz
de conta que isto é uma aula e que vocês são meus alunos. É apenas um role
play, não se assustem. Não vai haver testes nem avaliação. Cada um será dono da
sua opinião.
Mas há alguma matéria a
aprender.
O tema é o Racismo –
velho como o Mundo. Está no coração e na cabeça da Humanidade há séculos e
séculos. Livrarmo-nos dele é como nos livrarmos de uma erva daninha que vamos
arrancando devagarinho, mas que volta de vez em quando, subtilmente, ou em
força.
Provavelmente será fácil
para mim ver de fora este fenómeno. Sou uma Mulher branca, num pais de maioria
de pessoas de pele branca, filha de uma família de classe média, criada em
escolas e numa cidade cuja maioria da população com quem convivi eram da mesma
etnia e cor que eu. Pertenço a um género que sofreu e ainda sofre abusos
violentos no mundo inteiro. Sou Mulher. Mas nunca me senti descriminada pela
cor da minha pele, nem pela minha etnia, nem religião.
Por isso talvez me seja
difícil perceber o que sente uma pessoa de etnia Cigana quando é interditada de entrar em
algum lugar público, porque é Cigano. Talvez me seja difícil entender o que sente uma
criança ou jovem filho de pais ciganos, crescer a ouvir dizer por parte dos
outros (que fazem parte da sua comunidade ou cidade ou terra) que os Ciganos, a
sua família, a sua cultura é gente que “não são de fiar”. Por isso talvez me
seja difícil perceber que uma pessoa de etnia Cigana oiça anos a fio os
mesmos estereótipos, as mesmas ideias, as mesmas frases que “os outros” dizem
há anos, há séculos sobre o seu povo, sobre a sua cultura – "ladrões", "mentirosos" e outras coisas tal e fique impávido sem reagir.
Talvez me seja difícil de
perceber que na Comunicação Social seja comum títulos como “Cigano mata outro à
facada” e não apareça um título como “Branco ou caucasiano mata mulher à
pancada”.
Na comunicação social Cigano é Cigano e Branco é Homem. Cigana é Cigana e Branca é Mulher. Se percebem a subtileza (ou não) da forma como as
noticias nos chegam, e como entram na nossa cabeça e na nossa mente, perceberemos
que continua a ser uma árdua luta quebrar estereótipos e acabar de vez com o
racismo, preconceito ou xenofobia.
Se classificarmos e
avaliarmos cada indivíduo segundo o comportamento do grupo em que se insere,
então não teremos Humanidade. As frases bonitas de “Somos um só” não passam de
isso mesmo – frases bonitas para publicar nas redes sociais. Apenas nos refugiamos
no medo do desconhecido, no preconceito de julgar que sabemos tudo sobre os
outros, porque em crianças, coisas do meu tempo de infância, ouvimos dizer que “Se
não te portas bem, vem lá a cigana e leva-te”.
E esta “aula” vem a
propósito de um artigo da comunicação social que publiquei na minha página do
facebook, sobre um acto de descriminação e um acto ilegal feito a uma etnia
específica – Etnia Cigana.
Tenho nas minhas aulas
alunos com vários tons de pele e configuração da face - cor negra (várias
tonalidades) de cor branca e orientais; de etnia cigana; de várias religiões, evangélicos,
testemunhas de Jeová, rastafáris, budistas e católicos; com diferentes
orientações sexuais, hétero, homo, bi e intersexual; filhos de emigrantes de
vários países, brasileiros, croatas, ucranianos, russos… Alguns chegam a
Portugal e mal falam português. Mas todos se entendem. São adolescentes e o que
os une é isso mesmo, serem jovens.
Um dos textos que lemos
em conjunto é a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Garanto-vos que é
uma das matérias que os meus alunos aprendem melhor. Quando se zangam é por
causa dos namorados, dos ciúmes entre amigas, das relações amorosas e de
amizade que não correm bem, da forma como vivem a escola e a aprendizagem,
zangam-se pelos afectos ou por falta deles. Fazem as pazes pelas mesmas razões.
Mas nunca os vi colocarem na mesa das zangas, nem a cor de cada um, nem a
etnia, nem a religião.
Depois crescem e perdem a
pureza com que vêem o mundo nos seus olhos de espanto. Depois são apanhados nas
redes do preconceito e do medo. Porque só é racista quem tem medo. Por isso
peço aos meus alunos que cresçam mas não esqueçam a adolescência. E que vejam
os ouros através das suas acções e não através dos preconceitos que envolvem o
grupo a que pertencem.
Aos adultos já não posso
dar lições. Isto foi mesmo só a fingir que era uma aula, Mas caso queiram aqui
fica a matéria.
a)Declaração
Universal dos Direitos Humanos
Artigo 2 °
Todos os seres humanos
podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração,
sem distinção alguma, nomeadamente, de raça, de cor, de sexo, de língua, de
religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de
fortuna, de nascimento, ou de qualquer outra situação.
CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA PORTUGUESA
PARTE I - Direitos e
deveres fundamentais
Artigo 13.º - (Princípio
da igualdade)
1. Todos os cidadãos têm a mesma
dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado,
beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer
dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem,
religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou
condição social.
Alguns Sites para
Compreender a Etnia Cigana na actualidade Portuguesa.
Opré Chavalé – Quebrar as barreiras que separam as
comunidades ciganas do ensino superior
Coordenação: Plataforma Portuguesa para os Direitos das
Mulheres
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