Parabéns Teresa Horta

Poetiza, Escritora, Jornalista, Antifascista, Feminista, Mulher.

Parabéns pelo seu aniversário e por ser a voz das Mulheres, de todas nós Mulheres.

FAZER AMOR COM A POESIA

Deito-me com as palavras
beijo a boca dos poemas
quando a razão desvaria
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Manipulo a linguagem
tomo a nudez dos meus versos
faço amor com a poesia
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("As Palavras do Corpo")

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Eu venho de longe, do tempo em que as meninas iam de bata branca para a escola de olhos postos no chão, porque era proibido falar com os rapazes; eu venho de longe, do tempo em que a mãe chamava e me dizia “vem aprender a engomar uma camisa do teu pai, tens de saber passar a ferro uma camisa de homem” e eu não percebia em que altura da minha vida eu iria vestir uma camisa de homem; eu venho de longe, do tempo em que meninas  ouviam “com esse feitio, não arranjas marido”.

Eu venho de longe, do tempo em que o maior medo de uma rapariga era engravidar antes do casamento, do tempo em que íamos com as amigas às casas das abortadeiras em prédios dos bairros dos subúrbios de Lisboa, e ficávamos à porta a rezar para que a nossa amiga saísse viva e pelo seu pé. E em silêncio retomávamos às nossas casas, feridas no corpo e na alma.

Eu venho de longe, do tempo em que a expressão da sensualidade e sexualidade da Mulher era pecado, e era para esconder debaixo da cama, com os medos, com a escuridão, com a tristeza e a solidão.

A mim, a Teresa Horta, ensinou-me tudo.

Numa altura em que tudo nos era vedado, o conhecimento do nosso corpo, a expressão do nosso desejo, em que toda a sensualidade era pecado e a alegria do amor vivia escondida, Teresa Horta, lutando contra a censura e a Pide, num tempo de ditadura, escrevia o livro Minha Senhora de Mim
e então eu percebi que nada havia de errado em mim. Porque se esta Mulher, Escritora, Feiticeira mágica das palavras, Mulher sábia e selvagem, terna e forte, lutadora e corajosa como um animal da floresta e frágil como uma rosa, que descreve o corpo da mulher com esta subtileza,” escreve com as palavras do corpo” sublimando o amor, sem o desenraizar da paixão terrena, povoando a sua poesia de anjos e estrelas, tornando o amor carnal em divino e o divino em sensorial, levando-nos ao espanto do abismo das suas palavras, e abrindo os nossos olhos à pureza do Feminino, então estava tudo bem.

E sempre que a sombra e as criaturas da noite sobrevoavam sobre mim, eu tinha a magia das suas palavras, da sua poesia.

Gratidão imensa por nunca nos abandonar a todas nós Mulheres, Marias, "Meninas", "Emas". 
Tereza Lamy

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Poema ao Desejo

Empurra a tua espada
no meu ventre
enterra-a devagar até ao cimo

Que eu sinta de ti
a queimadura
e a tua mordedura nos meus rins

Deixa depois que a tua boca
desça
e me contorne as pernas de doçura

Ó meu amor a tua língua
prende
aquilo que desprende da loucura


Maria Teresa Horta, 
Minha Senhora de Mim

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