Poetiza, Escritora,
Jornalista, Antifascista, Feminista, Mulher.
FAZER AMOR COM A POESIA
Deito-me com as palavras
beijo a boca dos poemas
quando a razão desvaria
*
Manipulo a linguagem
tomo a nudez dos meus
versos
faço amor com a poesia
*
("As Palavras do
Corpo")
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Eu venho de longe, do tempo
em que as meninas iam de bata branca para a escola de olhos postos no chão,
porque era proibido falar com os rapazes; eu venho de longe, do tempo em que a mãe
chamava e me dizia “vem aprender a engomar uma camisa do teu pai, tens de saber
passar a ferro uma camisa de homem” e eu não percebia em que altura da minha
vida eu iria vestir uma camisa de homem; eu venho de longe, do tempo em que
meninas ouviam “com esse feitio, não arranjas marido”.
Eu venho de longe, do
tempo em que o maior medo de uma rapariga era engravidar antes do casamento, do
tempo em que íamos com as amigas às casas das abortadeiras em prédios dos
bairros dos subúrbios de Lisboa, e ficávamos à porta a rezar para que a nossa
amiga saísse viva e pelo seu pé. E em silêncio retomávamos às nossas casas,
feridas no corpo e na alma.
Eu venho de longe, do
tempo em que a expressão da sensualidade e sexualidade da Mulher era pecado, e
era para esconder debaixo da cama, com os medos, com a escuridão, com a
tristeza e a solidão.
A mim, a Teresa Horta,
ensinou-me tudo.
Numa altura em que tudo
nos era vedado, o conhecimento do nosso corpo, a expressão do nosso desejo, em
que toda a sensualidade era pecado e a alegria do amor vivia escondida, Teresa
Horta, lutando contra a censura e a Pide, num tempo de ditadura, escrevia o livro Minha Senhora de Mim
e então eu percebi que
nada havia de errado em mim. Porque se esta Mulher, Escritora, Feiticeira
mágica das palavras, Mulher sábia e selvagem, terna e forte, lutadora e corajosa
como um animal da floresta e frágil como uma rosa, que descreve o corpo da
mulher com esta subtileza,” escreve com as palavras do corpo” sublimando o
amor, sem o desenraizar da paixão terrena, povoando a sua poesia de anjos e
estrelas, tornando o amor carnal em divino e o divino em sensorial, levando-nos
ao espanto do abismo das suas palavras, e abrindo os nossos olhos à pureza do
Feminino, então estava tudo bem.
E sempre que a sombra e
as criaturas da noite sobrevoavam sobre mim, eu tinha a magia das suas
palavras, da sua poesia.
Gratidão imensa por nunca
nos abandonar a todas nós Mulheres, Marias, "Meninas", "Emas".
Tereza Lamy
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Poema ao Desejo
Empurra a tua espada
no meu ventre
enterra-a devagar até ao cimo
Que eu sinta de ti
a queimadura
e a tua mordedura nos meus rins
Deixa depois que a tua boca
desça
e me contorne as pernas de doçura
Ó meu amor a tua língua
prende
aquilo que desprende da loucura
Maria Teresa Horta,
Minha Senhora de Mim
Minha Senhora de Mim
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