O vídeo de que se fala (e que peço que não vejam)!

Introdução para quem não foi ainda massacrado pela Comunicação Social.
Resumo dos Factos:

A edição desta quarta-feira do jornal Correio da Manhã divulgou um vídeo amador, feito por jovens que mostra uma "alegada violação de uma rapariga num autocarro do Porto" que se passou durante a Queima das Fitas, que decorreu entre 7 e 14 de Maio".


A divulgação do vídeo que foi visto à exaustão levou a uma série de reacções contra o dito jornal, ao longo do dia desta quarta-feira nos media. E as entidades reguladoras tomaram posição contra o jornal em causa, muito bem, a saber:

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) abriu um processo para averiguar a transmissão pelo jornal Correio da Manhã de “um vídeo em que é visível um alegado abuso sexual sobre uma jovem”.

O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas (CDSJ), condenou a divulgação pelo jornal e pela televisão do CMTV, considerando que o vídeo publicado pelo Correio da Manhã no seu site atenta contra todas as regras do jornalismo e deve por isso ser retirado on line.

A Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) avançou para uma queixa contra o jornal no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, para apuramento de responsabilidade criminal, "uma vez que as imagens divulgadas indiciam a prática de crime contra a honra ou contra a reserva da vida privada, contra a liberdade e autodeterminação sexual".
Esta situação pode incorrer num crime de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência mas o respectivo inquérito só pode ser iniciado depois de apresentada queixa.

O Expresso relata que a rapariga, depois de descoberta a sua identidade, é maior de idade, e não fez nenhuma denúncia relacionada com a suposta violação, nem a propósito da divulgação de imagens da sua pessoa.
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Porque peço que não vejam o vídeo? Porque de cada vez que este vídeo é visualizado, a menina em causa, que nós não sabemos quem é, mas ela sabe, vai ser mais uma e outra vez abusada, violada na sua intimidade, degradada na sua mais intima forma de ser, devido ao estado provável de embriagues e consequente inconsciência em que se encontrava e devido à cultura de “javardice”, estupidez brutal e desrespeito total pelos direitos humanos da intimidade de cada um deste grupo de jovens. 

E não contentes com este acto boçal, desrespeitoso, insultuoso, violador e criminoso de filmar a colega num estado de extrema fragilidade e exposição física, ainda o vão passar (não sabemos como) a um jornalista (?) de um jornal (’?) duvidoso que o põe on linne para todo o pais ver.

O vídeo mostra um grupo de jovens num autocarro, gritando e troçando com uma rapariga que se encontra deitada em estado completamente imóvel (talvez desmaiada?) e um rapaz que lhe mete a mão dentro das calças abertas enquanto se debruça sobre ela. Manipula-a sexualmente, enquanto os outros riem, dizem coisas como “eles nem estão a topar”, vão tirando fotografias e há um mais expedito que filma tudo como se de um filme porno hard core se tratasse. 

Há rapazes e raparigas a assistir. Pela indiferença e pela risota com que tratam a cena, parece que se conhecem e acham que tudo aquilo tem muita graça. Não há nenhum que diga alguma palavra de paragem ou indiciando de que o que estão a fazer tenha algum mal. O rapaz termina manipulação genital e sexual que faz à menina, afasta-se e esta levanta-se com um ar completamente atordoado, levando a mão à cabeça.

Podemos ficar ainda chocados pelo facto da menina não querer fazer queixa nem dos colegas que a filmaram, nem do rapaz que abusou da sua intimidade em público, expondo a sua mais profunda sexualidade, nem do jornal que expôs esta situação parra todo o pais ver.

Mas pensemos o seguinte - de cada vez que fizer queixa na polícia, nos tribunais, vai sentir o olhar acusador da sociedade – esta é a ”tal” do vídeo. “A que bebeu demais e se deixou violar, ou drogar, vá-se lá saber, que isto quem conta um conto….”

Nem precisava estar drogada, basta álcool a mais e uma jovem perde a noção do que se passa à sua volta. Este grupo de jovens age em horda, um grupo em que a violência e falta de empatia por um se torna em crescendo, explicada pela psicologia de massas. Mesmo que um ou dois queiram intervir, salvar a situação, não conseguem, agem em grupo agressor e tornam-se violentos e animais, todos eles.

É isto que acontece nas queimas das fitas, nas festas e que o álcool é rei, em que nada mais é dado aos jovens para fazer a não ser beber até ao blackout total. E provavelmente estes jovens já são universitários…

Absolutamente chocante, mas estes jovens não são únicos. Este tipo de vides corre na internet. Isto é a cultura que eu chamo de “Geordie Shore”, reality show que passa nas nossas televisões e que consiste em acompanhar o dia-a-dia de um grupo de jovens que nada mais faz do que sair à noite e beber álcool em excesso, apanhar enormes bebedeiras, terem sexo (explicito ao vivo) uns com os outros, insultarem-se, e usarem linguagem ofensiva acerca uns dos outros. Há momentos em que os personagens/ rapazes dizem que o seu objectivo no programa é “comerem” o maior número possível de raparigas… Este programa passa nas nossas televisões, para quem tem televisão por cabo. Não é considerado “filme para adultos” – apenas tem um aviso prévio “Este programa tem linguagem forte e conteúdo sexual explicita”. E passa à tarde. Não passa num canal codificado, não é considerado pornografia. É isto que eles vêem...

Christian  Schloe
Esta é a cultura de massas que temos. Não são todos os jovens que temos. Mas são alguns. Para mim, já são mais que muitos.

Não há educação para a igualdade de género nas escolas.

Não há educação para o respeito. Não há educação sexual, 
nem se fala sobre intimidade nem o respeito pelo corpo de cada um.

Não há um espaço onde os jovens possam receber informação correcta sobre o despertar da sua sexualidade.

Não se explica aos jovens que isto que fizeram é imitar a pornografia, mas eles não são cineastas, nem actores  e que vão magoar muito alguém.

Não há alternativa às queimas das fitas???

Com álcool em barda e blakouts até à exaustão. ???

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