Lembrei-me esta manhã da
segunda versão da canção de Chico Buarque escrita para nós portugueses em 1978 a
propósito da nossa revolução / Festa dos Cravos e que diz assim “Foi bonita a
festa, pá /Fiquei contente /E inda guardo, renitente /Um velho cravo para mim.”
E eu também gosto de
festas. E este mês de Maio foi rico em celebrações para nós Portugueses.
Tivemos muito para celebrar, em festa e alegria. Os católicos puderam celebrar
a vinda do líder mundial da Igreja Católica Romana, Papa Francisco a Portugal e
a canonização de duas crianças portuguesas, Francisco e Jacinta, fez com que
fossem proferidas pelo líder católico, palavras de carinho e protecção
para com as crianças; os crentes e espirituais quer católicos, quer não católicos
puderam celebrar os 100 anos da presença da figura do Sagrado Feminino na
Terra, com as aparições em Fátima; os adeptos do Benfica festejaram em delírio
o tetra campeonato do seu clube e Portugal inteiro festejou a vitória do nosso
país no Festival Eurovisão da Canção onde participámos 48 vezes, sendo a
primeira em 1964.
Foi em grande! E nas
redes sociais, comunicação social e nas bocas do mundo não se falou de outra
coisa a não ser estes três grandes acontecimentos. Quem festejasse todos, não
teve mãos a medir a publicar fotos e factos no facebook, instangram, twiter, e
outros, bem como a fazer zapping nos canais televisivos para não perder pitada
das reportagens em directo sobre tudo o que se passava em Fátima, na Luz em
Kiev e no Marquês de Pombal.
Eu andei por Lisboa no
dia 13 de maio em afazeres varados e o meu GPS ficou completamente louco com
tantos desvios, ruas e avenidas cortadas. Tive de o desligar e perguntar a
taxistas, polícias e outros especialistas na área onde poderia estacionar o meu
carro. A resposta era a mesma, sempre a rir. Hoje? Não me parece que tenha
muita sorte… Mas como sempre consegui encontrar as “minhas” estátuas humanas e
os músicos de rua, que quem sabe um dia irão à Eurovisão. Porque os sonhos
concretizam-se.
Dei por mim a perguntar
se seria o Papa a chegar a Lisboa, se era a equipa do Glorioso se era o nosso
Salvador. E lembrei-me que Salvador é nome de Messias. Assaltou-me à memória o
nosso Fernando Pessoa e o seu D. Sebastião retratado várias vezes na Mensagem.
É este menino com voz de anjo o “Desejado” por quem esperamos anos e anos a fio
e que nos salva da mediocridade?
O mito Sebastianista, por
romântico que nos pareça e por muitas voltas que lhe demos nos nossos dias ao
continuar a ensinar nas escolas, foi amado e acarinhado no Estado Novo em
Portugal. E Fátima. E o Futebol.
E já cá não falta quem
faça a inevitável analogia dos 3 efes do estado novo, só que desta vez é
Fátima, Futebol e Festival da Canção… Confesso que também me senti recuar no
tempo neste 13 de maio, embora tenho sido linda a festa pá. Mas avancemos, avancemos,
que já não estamos no Portugal dos pequeninos e já aprendemos outras lições.
Todos nós temos os nossos
heróis. Um destes dias o meu filho perguntou-me vindo do nada. Quem é o teu herói
português? Vivo? Perguntei? Sim. Carlos Lopes, sem hesitar. Impossível esquecer
a entrada deste pequeno homem, enorme, gigante atleta a entrar no estádio de Los
Angeles com um ar incrédulo e humilde de quem nem sabia que tinha ganho este
enorme feito e que em 1984, se tornava o primeiro português a ser medalhado com
o ouro nos Jogos Olímpicos. Carlos Lopes começou a trabalhar aos 11 anos como
servente de pedreiro. Trabalhou toda a vida para ajudar a sustentar toda a
vida. Não havia patrocínios nem os apoios que os atletas têm agora. Apenas
tinha o que têm os heróis. Vontade, trabalho, inspiração de chegar mais longe.
Vitórias que são nossas,
ou dos nossos? Todos nós temos os nossos heróis, e os heróis servem para nos
inspirarem a conquistarmos a nossas próprias vitórias.
Todos nós temos os
nossos guias, os nossos mestres espirituais ou que nos ensinam a pensar, a
construir espírito crítico, a seguir o nosso caminho. São pessoas de quem nos
orgulhamos. Esperemos que sejam inspiração para os nossos dias e as nossas
lutas.
Seremos quem somos, não precisamos de ganhar prémios, nem de ser
famosos, precisamos apenas de ser o melhor de nós próprios. Cada um de nós. Tal
como é.
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