Fazer Amor vs Fazer Sexo

Numa sociedade em que os média estão repletos de imagens sexuais, em que o corpo escultural e estereotipado, quer o das Mulheres quer o dos Homens são usados como objectos / chamariz para vender roupa, ou cosmética, ou carros ou planos poupança-habitação, seria de esperar que toda a gente passasse a tratar o sexo e a sua vida sexual por tu.

Afinal o “sexo vende” e não há revista nenhuma nas nossas bancas dedicadas ao público feminino ou masculino que não traga em cada número pelo menos um ou dois artigos com conselhos de como melhorar a sua vida sexual, como ter mais e melhores orgasmos, como apimentar a sua relação sexual, como experimentar novas posições, onde, como, com quem, quantas vezes e onde fazer sexo para ser uma mulher /homem realizad@.

Logo, já sabemos tudo sobre o assunto. Ou não.

Por certo concordarão que fazer amor e fazer sexo são coisas diferentes. Ou não.
Mas não me caberá a mim julgar estes conceitos, nem valorizar um em função de outro.

O que é um facto é que o sexo, a forma como nos relacionamos sexualmente com um parceiro, independentemente da orientação sexual de cada um, está relacionado com questões que passam por sensações físicas, intimidade, cumplicidade, empatia, sentimentos, emoções, com maior ou menor intensidade, conforme a época de vida em que nos encontramos, a duração da relação, a disposição com que nos encontramos, as condições de vida exteriores à relação, e com um mudo de outras condicionantes exteriores ao casal.

Todos nós procuramos ser felizes. Procuramos caminhos, actividades, buscas interiores ou exteriores, viagens, procuramos encontrar aquele estado que conhecemos em algum ponto da nossa vida e que queremos agarrar para sempre. Porque já conhecemos a felicidade. Mas por vezes, esquecemo-nos de a regar como uma planta rara.

E nessa busca de felicidade está, ente outros aspectos da nossa vida, a nossa Vida Sexual.
Muitos casais queixam-se que a sua vida intima, sexual vai perdendo o interesse ao longo do tempo e vão dando desculpas, para si mesmos – o cansaço, os filhos, a falta de tempo…

E instala-se a monotonia. E mais grave ainda do que perder a paixão inicial do romance é a perda de intimidade.
A intimidade é a relação entre duas pessoas mais complexa de se encontrar. É aquele sentimento em que nos sentimos uma parte do outro. Em que sabemos que somos completamente compreendidos, suportados, apoiados pelo outro, haja o que houver. Sem pudores, sem reservas, em aceitação total de corpo e espírito.
Intimidade é aceitar que o outro evolua, mude, cresça. É aceitar e continuar a amar o corpo do parceiro ou parceira mesmo com os quilos a mais que se instalaram com o tempo, mesmo com as rugas do tempo, as cicatrizes, as marcas da vida. Mas é ainda mais aceitar a nossa própria evolução e continuarmos a gostar de nós próprios e do nosso corpo, da partilha de intimidade, da sensualidade e sexualidade com o ou a parceir@.

Algumas pessoas em alguma parte da sua vida (homens ou mulheres) mesmo tendo uma relação estável, tendem a ter relações íntimas, sexuais com parceiros distintos, fora da relação estável.
Estas pessoas ou são “poliamorosas” o que significa pessoas que são capazes de amar várias pessoas ao mesmo tempo e então esta situação é comunicada ao parceiro mais estável, o que não é muito comum na nossa sociedade (embora existam) ou são pessoas que necessitam de ir procuram em terceiros o que lhes falta na relação intima com o/a  seu/sua parceir@ de vida. Isto é, falta o olhar de validação do outro, o olhar que o outro tinha para consigo no início da relação e lhe reforçava a auto-estima e lhe assegurava que era desejad@ e amad@.

Há quem se vicie nestas relações extra conjugais. É o vício da conquista, do jogo da sedução, do poder que se exerce sobre um outro e que valida e reforça uma auto-estima perdida. Por vezes há sexo, há performance sexual, pode haver afecto, mas as relações são breves, porque passada a fase da conquista é necessário partir para nova prova de que se é capaz de seduzir outra pessoa. Não chega a haver intimidade nestas breves relações.

Sem fazer juízos de valor ou atrever-me a dizer o que está certo ou errado nas relações tão ricas entre os seres humanos, sei no entanto que a sexualidade humana é uma área muito complexa. E que se não trabalharmos esta área da nossa vida, do nosso corpo em nós próprios, ela será mais pobre, porque o hábito, a monotonia, o stress, o preconceito, os tabus, o medo de confrontar situações difíceis vão comprometer seriamente a nossa hipótese de evoluirmos sexualmente.

Assim, algumas pistas que posso deixar aqui quer para as Mulheres, quer para os Homens sobre Amor e Sexualidade são para já:

  • Não comparar a experiência da nossa vida íntima com as que lemos nas revistas e que nos fazem sentir menos capazes e mais aborrecidas. (As revistas como as novelas inventam um bocado…)
  • Utilizar sempre a Comunicação com o/ a parceir@. Parece fácil, mas não é. Somos capazes de ao fim de alguns anos dizer ao parceiro que já não gostamos de determinadas carícias e preferimos outras? Que preferimos fazer amor no sofá ou noutro local? Que gostaríamos que ele ou ela experimentassem uma prática íntima ou posição sexual nunca experimentada pelo casal? Ou ainda temos pudor de falar dos nossos gostos de desejos sensuais?
  • Relembrar a relação com o próprio corpo antes de ter um parceiro. Voltar a descobrir o prazer sozinha / sozinho, e de que forma o corpo mudou experimentando novas formas de relacionamento consigo e com o/a parceir@. (ver o meu artigo Sex Toys e saúde sexual)
  • Criar “exercícios” sensoriais durante vários dias de forma a construir uma nova intimidade dentro do casal. Isto significa, durante vários dias, arranjar formas novas de estar a dois, com música suave, ou criar novos espaços, fazer uma massagem a dois, um banho a dois, usar perfumes ou experimentar um jantar romântico fora do local habitual. Mas realizar estes “exercícios sensoriais” durante uns dias, sem avançar para a parte do “coito sexual”, sem penetração. Para apenas deixar que o desejo se instale de novo. Como quando a relação estava no início e tudo era novidade.

(Para usar a terminologia Processo de Resposta Sexual nos Seres Humanos de Masters and Johnson que se baseia em 4 estádios – Desejo; Excitação; Orgasmo e Resolução, podem criar durante uns dias situações em que o casal se fique apenas pelos dois primeiros estádios – Desejo e Excitação. Os dois últimos estádios serão muito mais esperados
se forem adiados por uns dias e criarão no casal uma sensação de novidade e sensualidade crescente)

  • E voltando ao básico de tudo. Olhar o /a parceir@ nos olhos. Deixar que os silêncios falem por si. Usar o toque suave, como se fosse a primeira vez que sentem a pele um do outro. E por último, partilhar em conversa tudo o que gostam e não gostam do que está a acontecer nas vossas vidas.

No Tantra, chama-se a estes exercícios criar “uma bolha de amor e confiança”.
Experimentem. Acho que não têm nada a perder.

Em anexo deixo-vos a referência da sere de televisão que retrata a vida destes dois cientistas pioneiros do estudo da Sexualidade Humana - William Masters e Virgínia Johnson

Comentários

  1. Excelente texto. Parabéns.
    Sexo, intimidade, amor, tantas vezes, mal tratados, uns e outros, e confundidos, e baralhados...
    Por vezes pensamos que esta confusão é típica da adolescência, e que faz parte do desenvolvimento, mas o certo é que me aparecem em consulta, casais bem adultos (ou indivíduos) que ainda andam à volta com muitas destas questões.
    Aqui fica apenas um exemplo: A crença que cada membro do casal não se deve masturbar, ou que se o faz, é porque a vida de casal (pelo menos a sexual) não corre bem... Pode não correr, pode haver exgeros, preferências desadaptativas e toda uma série de questões envolvendo a relação do casal e/ou problemas individuais, mas essa ideia pré-concebida, pode ser, ela própria, uma fonte de problemas...
    Dificilmente pode haver intimidade sem uma boa consciência de nós, do nossos corpo, da nossa autonomia (ou estaremos numa relação de dependência) e da aceitação da nossa própria vuilnerabilidade, e, nas relações amorosas, INTIMIDADE é uma das palavras-chave mais importantes.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada Cristina Cunha pela tua partilha e apoio. Como terapeuta de casal que és, a tua opinião é super importante e os exemplos que possas trazer ajudam em muito os meus leitores. A partilha, a consciência do casal começa mesmo pelo prazer e pelo conhecimento do nosso próprio corpo, conhecermo-nos é essencial e depois, darmo-nos a conhecer ao outro.

      Eliminar

Enviar um comentário