A Voz das Mulheres - As nossas Escolhas.

Com a morte de Carme Chacón, primeira-ministra da Defesa e Mulher que se tornou num símbolo da luta pela igualdade de género em Espanha é comovente e inspirador ouvir o seu último discurso público em que afirma o que é ser Mulher, Política, viver pelos seus ideias e ser Mãe.


Neste discurso lembra também outra grande Mulher, escritora e poetisa, resistente política contra a ditadura do seu país, Nicarágua - Giaconda Belli – citando-a “Não há nada mais poderoso do que uma mulher. Tem mais poder do que o músculo. Tem mais poder do que as armas. Não há nada mais poderoso do que uma mulher, porque tem por detrás o poder da Igualdade. Tem por detrás o poder de todas as mulheres.”

Através da História, as Mulheres nos movimentos Feministas, têm lutado pela igualdade de oportunidades, pelo seu lugar na sociedade ao lado dos Homens, provando que são capazes de fazer qualquer trabalho, qualquer tarefa que a sua comunidade necessite.

No entanto, para chegar a um lugar de destaque, ou para se afirmar numa posição de liderança, para progredir numa carreira, para poder mostrar o seu valor, todas as Mulheres sabem que têm de trabalhar o dobro de qualquer homem.

Trabalhar o dobro, ser melhor a dobrar, para ser considerada igual. Porque a competição é implacável. Porque há muitas Mulheres que conseguem mostrar o seu valor e chegar a lugares onde podem exprimir a sua voz e mudar o Mundo. Ou mudar o que se passa à sua volta na sua empresa, no seu local de trabalho, através da sua chefia. Mas os custos são enormes.

Carme Chacon afirma, e eu concordo com ela – “Se quiserem ser mães, não sacrifiquem a vossa maternidade pelo trabalho. Ninguém vos vai agradecer por isso. O mesmo para os homens. Desfrutem. Podem fazer-se, sem dúvida nenhuma, ambas as coisas.”

Podem. Ela é um exemplo. Muitas outras serão.

Mas há muitas outras que não conseguem. Mulheres hoje em dia, as melhores alunas dos seus cursos, em carreiras promissoras, na área da Medicina, Economia, Gestão, Engenharia, Cultura, Arte, tantas outras áreas, sabem que a partir de uma altura das suas carreiras se quiserem afirmar-se mais, trabalhar mais, mostrar que são capazes de modificar, criar, produzir melhor e mais inovador trabalho na empresa ou trabalho que escolheram e onde se sentem à vontade, terão a certa altura de fazer escolhas dolorosas.

Terão de abdicar as horas dedicadas a constituir família ou a passar tempo com a família que já criaram.

Há empresas ainda nos nossos dias que, apesar da igualdade de género ser um direito assegurado, entre dois candidatos com qualidades e currículos semelhantes, escolhem o elemento masculino. E se o elemento feminino estiver grávida, será difícil ser contratada.

Criar uma família, ter filhos, dar-lhes a atenção que as crianças precisam, ser mãe, fisicamente presente não é compatível com as longas horas a mais que terão de ficar no trabalho para provar que são capazes de ser melhores a dobrar que os seus os colegas homens.

Há mulheres que se rodeiam da família. Há ainda a benesse da existência da estrutura “avós” presentes que suportarão estas crianças e as longas horas em que as mães estarão a trabalhar. Há casais que irão dividir tarefas de tal modo organizadas em que ambos poderão trabalhar ou ainda em que o pai escolherá ficar em casa a criar os filhos enquanto a mãe poderá ficar com mais tempo para se dedicar à sua carreira. Poderemos fazer isto tudo.

Mas não precisamos de ser super-mulheres. Somos Mulheres com poder de escolha e com voz para lutarmos por aquilo que desejamos para a nossa vida e sermos felizes e inteiras. 
Ser mãe é uma bênção que a natureza nos deu, mas deve ser uma Escolha nossa. Não se é menos Mulher por não se ser Mãe. Ser Mulher de Carreira é outra escolha que temos à nossa disposição. 

Não temos obrigação de provar mais nada aos Homens. Já provamos que somos capazes de trabalhar e fazer todas as tarefas seja em que área for, somos capazes de intervir em qualquer área em que a sociedade precise de nós. E com inteligência e generosidade.

Mas podemos escolher. Desfrutar a vida. Viver de acordo com a nossa essência, com aquilo que sentimos que é o que nos faz sentir plenas.


Dar mais tempo aos filhos, dar mais tempo à carreira, é escolha nossa. Sem culpas, sem pedir licença a ninguém. Sejamos inteiras nas nossas escolhas e vivamos de acordo com elas. 

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