Se o mês de Março é nosso, de quem são os outros meses todos?

Christian Schloe
Março. Mês da Mulher. Todo para nós

Palestras, eventos, campanhas de sensibilização para a prevenção do cancro da mama e do útero, maratonas pela Mulher, descontos em telemóveis, promoções em artigos femininos, flores e prendas, vale tudo. 

Ainda por cima temos um dia, um dia inteirinho todo mesmo para nós. Internacional. 

Nesse dia, que é amanhã dia 8, acautelem-se. É proibido maltratar, bater, humilhar, espezinhar, violar, abusar e muito menos matar qualquer mulher no Mundo.

A mim sabe-me tudo a um pedido de desculpa.

Como quem diz… pois é… "fomos maus, não percebemos que vocês existiam durante estes séculos todos, usamos e exploramos as mulheres para todo o tipo de serviços, desde crianças até à velhice, fizemos de vós escravas, encarceradas, cortámo-vos as línguas para que não tivessem voz."

"Usámos a vossa delicadeza e doçura e chamámos-lhe fragilidade e inutilidade, mas mesmo assim mandámo-vos para o campo, para as fábricas, para os trabalhos iguais aos homens. "

"Mas pagávamos menos. Ou nada. Porque vocês sempre foram diferentes, cidadãs de segunda. Coisas de nada."

"Mas chegámos a ter medo da vossa visão, da vossa clarividência, da vossa intuição, da vossa capacidade de aprender. E então queimámo-vos na fogueira, chamando-vos bruxas."

Sabe-me a pedido de desculpa e não celebro em alegria nem em flores Março nem o dia 8.

Mas admiro e respeito todas as Mulheres e Homens que lutaram e continuarão a lutar para que Todas as Mulheres sejam tratadas com dignidade, como seres Humanos, sem diferença pelo seu género, por terem nascido com o destino de ser Mulher.

Não celebro o dia 8 de Março enquanto no G20 (abreviatura para Grupo dos 20) que é um grupo formado pelos Ministros de Finanças e Chefes dos Bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia (São as maiores potências económicas Mundiais) continuar a acontecer o que a seguir se relata. (vou referir apenas 10 destes países, mas deixo-vos as fontes para consultarem os outros.

India – “as mulheres e as raparigas (52%) continuam a ser vendidas como objectos, a serem obrigadas a casar-se, em alguns casos, com apenas 10 anos, a serem queimadas vivas devido a disputas relacionadas com o seu dote e, no que respeita às mais jovens, a serem abusadas como escravas do trabalho doméstico.”

Arábia Saudita – “tanto ao nível legal como social, as mulheres são cidadãs de segunda classe. Proibidas de conduzir, o que consiste num símbolo de enorme restrição no que respeita à mobilidade das mulheres, não existe qualquer lei que as proteja da violência doméstica e, em tribunal, o testemunho de um homem vale pelo de duas mulheres. “Uma mulher morre por hora a dar à luz na Arábia Saudita, e a OCDE divulga a percentagem de mulheres que afirmam já terem sido molestadas sexualmente no trabalho: 90%.”

Indonésia - “as mulheres indonésias sofrem actos de violência sexual todos os dias, sendo a violação a forma mais frequente dessa violência. Outras formas incluem o tráfico, o assédio e a exploração sexual, em conjunto com a tortura.”


África do Sul – “possui ainda uma das mais elevadas taxas de violência sexual com base no género do mundo – uma epidemia horrenda que contribui para a disseminação do vírus HIV”. Por cada homem, existem duas mulheres que contraíram SIDA e os serviços de polícia sul-africanas reportaram, no período 2010-2011, 66.196 ofensas sexuais.”

México – “entre as populações rurais em particular, o papel da mulher é ficar em casa. Algumas comunidades vivem em piores condições comparativamente às mais marginalizadas sociedades da África e da Ásia no que respeita à saúde pública e a outro tipo de desigualdades. As taxas de violência contra as mulheres são extremamente elevadas, sendo esta de natureza doméstica, sexual e relacionada com drogas. Os números divulgados, em 2008, pela Amnistia Internacional, afirmam que um quarto das mulheres mexicanas sofre abusos sexuais por parte do seu parceiro.”

CHINA - possui um dos mais elevados rácios de masculinidade à nascença [quociente entre os nados-vivos do sexo masculino e os nados-vivos do sexo feminino]. Este rácio desigual tem vindo a resultar em milhões de “mulheres e raparigas perdidas” em conjunto com níveis de discriminação de género extraordinariamente elevados. Estes dados remontam a 2008 e que dão como mortas ou “desaparecidas” 1,09 milhões de raparigas no seguimento das práticas de infanticídio só no ano referido.”

RÚSSIA - “a violência doméstica é uma prática disseminada, país onde não existem leis de protecção para a Mulher, sendo que não existe qualquer tipo de justiça para as vítimas. A prostituição não tem estatuto – não é legal nem ilegal – e as ‘profissionais da área’ são frequentemente agredidas pela polícia. O tráfico humano é igualmente uma questão comum. Morrem, anualmente, cerca de 14 mil mulheres russas devido a violência doméstica, a juntar a mais de 57,750 que, todos os anos, são vítimas de tráfico. “

TURQUIA - “As mulheres e as raparigas continuam a ser mortas em nome da honra ou da castidade, a serem forçadas a casamentos precoces ou a escravatura doméstica, sendo sujeitas a todos os tipos de violência. As mulheres são extremamente sub-representadas na força de trabalho e nos órgãos de decisão, ao mesmo tempo que o conservadorismo se torna cada vez mais usual na política, restringindo a liberdade das mulheres e reforçando os papéis de género tradicionais. 3,8 Milhões de mulheres turcas são analfabetas.”

BRASIL – “é ainda um país muito marcado por elevadas desigualdades sociais e económicas directamente relacionadas a um acesso desigual às oportunidades e à discriminação de género. As mulheres são desproporcionalmente afectadas pela pobreza extrema, pelas falhas no sistema de saúde e pela violência, com particular enfoque para o sofrimento maior das mulheres indígenas, rurais e afrodescendentes. Dados recolhidos em 2011 apontam para a existência de cerca de 250 mil crianças envolvidas em prostituição. O país tem uma taxa de 4,8 homicídios para cada 100 mil mulheres, a quinta maior do mundo (dados de 2013)”.

COREIA DO SUL - “O sistema patriarcal e hierárquico extremamente rígido da Coreia Sul significa que os casos de assédio sexual são raramente reportados. Existe igualmente um gigantesco fosso salarial entre os géneros. Uma licença de maternidade insuficiente e a ausência de tempo para cuidar dos filhos significa que as vidas das mães trabalhadoras são extremamente complicadas e exigentes. Seis em cada 10 pessoas afirmam que os homens têm mais direito a trabalhar do que as mulheres em épocas de escassez de emprego, Acresce o facto de 4 em cada mil bebés serem de mães adolescentes.”.

Sobre os países chamados subdesenvolvidos ou de 3º Mundo já escrevi sobre a horrenda prática da excisão genital feminina.

Se conseguiram ler até aqui, dou-vos os parabéns e agradeço-vos terem estado comigo. 




Eu só quero ter os outros 11 meses do ano, em igualdade com a outra metade da população do Mundo e ter a certeza que qualquer Ser Humano simplesmente por ter nascido com o destino de ser Mulher, não estará condenada a sofrer mais do que se tivesse nascido Homem. 



Fontes




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