Como ensinar as Meninas Adolescentes a Dizer NÃO

Obra de Lori Earley 
Este tema é abordado nas minhas aulas, por isso as minhas alunas adolescentes já sabem esta lição. 

Não quer dizer que os rapazes não precisem também de saber dizer NÂO em situações de assédio ou Bullying, mas deixarei esse tema tão importante e actual para uma próxima crónica.

Hoje falo do NÂO em situação de relação sexual com os namorados ou amigos íntimos. Chegam-me por parte das Meninas histórias de violência ou abuso por parte dos rapazes que acontecem, porque elas numa relação de alguma intimidade não foram capazes de dizer NÂO e pararem no momento que que queriam parar.

Estas situações causam graves traumas posteriores, falta de auto-estima, dúvidas, confusão, arrependimento, vergonha em Meninas de 14 ou 15 anos, que deveriam estar em consciência e liberdade a descobrir a sua sexualidade de uma forma saudável e adequada ao seu estádio etário e emocional.

E não podemos culpar violentamente os rapazes de 14 e 15 anos pelas suas atitudes. Eles também estão confusos, recebem mensagens do seu corpo que ainda não sabem controlar e mensagens do exterior, nomeadamente da pornografia que consomem na internet (uma enorme percentagem consome) que lhes dá uma ideia completamente distorcida do que é a sexualidade saudável humana.

E infelizmente, nem estas raparigas, nem estes rapazes têm alguém que lhes explique o que se passa com o seu corpo, com as suas emoções, com o seu crescimento. A não ser os amigos, que também estão tão confusos como eles, os ditos filmes porno, as novelas, os Reality shows, com cenas degradantes, para quem tem tv por cabo apanha programas em que são filmadas cenas de sexo explícito, revistas com imagens em que o corpo da mulher é tratado como um objecto, tudo isto, mensagens que banalizam o sexo e lhes dizem que quanto mais melhor!

Ora na adolescência os rapazes e raparigas da mesma idade estão em estádios diferentes. Mas querem estar juntos, desejam a companhia uns dos outros, querem namorar, querem experimentar a sexualidade, têm imensa curiosidade e desejo em tocar, sentir o outro.


Os rapazes estão numa fase hormonal em que a Testosterona, hormona masculina, exerce um papel muito importante na boa disposição, força muscular, excitação e orgasmo. Na adolescência esta hormona faz-se sentir com muita potência, logo a sua forte presença no homem explica a grande apetência sexual que lhes é característica. Para os rapazes, o mais importante no acto sexual é a realização ou a performance final - a descarga final, o orgasmo e consequente ejaculação. E são capazes de o fazer muitas vezes nesta idade.

As raparigas, depois do aparecimento da menstruação (a 1º menstruação chama-se Menarca) que é uma fase muito linda da vida de uma menina, surge a hormona chamada estrogénio, hormona feminina, por excelência, produzida pelos ovários, e a Progesterona que é, segregada após, cada ovulação e que Influencia o humor, propicia o aparecimento de acne e equilibra os estrogénios. Logo, se cada Mulher tem um ciclo menstrual de 28 em 28 dias, estas duas hormonas influenciam o seu estado físico e emocional, deixando-a instável durante esses 28 dias e com humor variável.

As raparigas desejam caricias, beijos, promessas de amor, abraços, por vezes estão tristes e ciumentas, outras vezes contentes e exuberantes. Não são sensíveis à pornografia, mas sim aos filmes românticos de amor em que os personagens se beijam e abraçam e fazem amor em cenários lindos cheios de encantamento e magia. Esse é o cenário que imaginam para si.

Portanto, no geral, rapazes e raparigas desejam-se uns aos outros, mas nas suas cabeças, a performance não é exactamente igual.

Neste cenário, na relação amorosa, os rapazes estão prontos para o acto sexual completo, ou seja com penetração. As meninas, embora as suas hormonas e os seus órgãos internos estejam prontos para que o seu corpo já possa acolher um bebé, o seu estado emocional e social ainda não está preparado, nem para ser mãe, nem para muitas vezes ter uma relação sexual completa, ou seja com penetração. (Além de que o corpo de uma mulher adulta a vagina leva em média 20 ou 30 minutos para estar preparada pare ter prazer na penetração.)

Há 100 anos atrás, uma rapariga de 14 ou 15 anos estava pronta para casar e ter filhos. E não tinha voto na matéria sobre o seu destino. Esses casamentos eram organizados pelos pais…
Mas não vivemos nesse tempo, felizmente.

O que podemos dizer então às nossas filhas, e aos nossos filhos de 14, 15, 16 anos? O amor, a relação amorosa é linda, desde que haja respeito pelo que o outro sente.


Podem dar beijinhos, podem curtir (isso quer dizer toques, carícias por vezes nas partes mais intimas). Até que um dos dois, geralmente é a Rapariga que não está preparada para continuar, diga a palavra NÃO.

E não é não, não é “ai, sei lá, se calhar é melhor parar…” Não minhas queridas. Se não está a ser bom para vocês, se o vosso corpo e a vossa cabeça não se sentem preparados para uma relação sexual completa até à penetração, dizem claramente:

“Olha, foi bom até agora, mas AGORA QUERO PARAR. NÃO QUERO CONTINUAR; PORQUE NÂO ME SINTO PREPARADA”. E dizem assim com voz alta para ele perceber.

E agora vocês, maninas pensam… “e o que vai ele pensar e dizer aos amigos? Que eu “curti” e depois fui medrosa e não fui até ao fim? Vou até ao fim porque as outras também vão?

 E eu digo-vos. O que ele vai pensar não interessa nada. Interessa é o que vocês sentem e a vossa escolha!

E mães dos rapazes! - está na hora de os educarmos também. As Meninas são para ser respeitadas. Se uma Menina diz não, é mesmo não. E não é de Homem andar a contar aos amigos com quantas e com que menina andou aos beijos.

Rapazes – Tratem todas as Raparigas como gostariam que os outros Homens e todos os outros Rapazes tratassem a vossa mãe e as vossas irmãs. Fácil não é?

Uma história só para acabar. Numa aula em que expliquei isto tudo e em que a turma estava muito atenta (rapazes e raparigas) e pelo acenar de cabeças e por relatos anteriores eu já sabia que algumas tinham passado por experiências semelhantes, uma aluna mais espontânea sai-se com esta:

“ Ó professora, mas se no meio da curtição se  ele já estiver tão excitado que já não há volta de ele voltar atrás como é? (chama-se a este estado – “The no turning point of ejaculation”) o que fazemos se não queremos a penetração?”

 E eu … saiu-me esta frase que ficou para sempre:

“Olha, brinquem com a mãozinha”.

A gargalhada foi tão geral, que o tema foi desmontado ali com grande facilidade. Nada como brincar com um assunto muito sério para que toda a gente perceba bem a mensagem.

Expliquei o que eles tinham percebido – os jovens têm à sua disposição a masturbação (auto e do outro) que é plenamente satisfatória, não quebra a intimidade e pode tornar uma situação difícil numa experiência de partilha, sem magoar nenhum dos dois.

Pensem nisso. Calculo que não seja fácil explicar isto tudo aos filhos. Podem dar-lhes a ler este texto, se o entenderem. Os meus alunos não ficaram traumatizados.

As meninas até ficam aliviadas. E pensaram, somos normais. Posso pensar numa relação completa mais tarde, quando me sentir pronta

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