Hoje falamos de
Identidade Sexual e Orientação Sexual e Adolescência
Porquê este tema e adolescência?
Porque trabalho com jovens e cada vez mais sei que estão confusos com estes
conceitos.
Já bem bastam as crises de identidade existencial, de onde venho,
para onde vou, o céu existe, o que é a morte, agora ainda temos - Quem sou eu
sexualmente? Posso beijar meninas e meninos? Sou rapaz, posso pintar as unhas? Sou
menina posso vestir-me à rapaz?
E a quem posso perguntar isto tudo sem parecer estranho?
E se não me mostrar igualzinho à norma vou ser vítima de bullying, é certo… o
melhor é esconder o que sinto e quem sou. E escondo, e calo-me, até rebentar! E
garanto-vos, pais, não queiram que os vossos filhos rebentem. Queiram que eles
sejam felizes.
Comecemos com uma lição
de Português:
Identidade – é o reconhecimento
de mim próprio ou seja a resposta às perguntas - quem sou eu? Qual é a minha essência?
Quais são as minhas características?
Ao longo da vida vamos
construindo a nossa identidade, mas é por volta dos dois anos que começamos a
ter consciência da nossa identidade sexual – somos um menino ou uma menina?
Comparamos os nossos genitais com os do papá e da mamã, identificamos gostos,
roupas e brincadeiras e a maioria das vezes nascemos no corpo certo.
Somos
meninas em corpo de menina ou menino em corpo de menino. Por vezes (não
encontrei estatísticas, ainda não se sabem quantas pessoas há abertamente no mundo
inteiro) acontece algo diferente. Nascemos com dois sexos, um talvez mais
desenvolvido que outro (somos intersexuados) ou nascemos com o corpo errado
(sentimo-nos mulher num corpo de homem ou sentimo-nos homem num corpo de mulher
– somos transgêneros)
Orientação – Direcção,
rumo, destino, tendência, Inclinação.
Ou seja, em termos sexuais significa a
minha preferência em termos afectivos, amoroso, sensuais e sexuais. Quais são
as pessoas e de que sexo me atraem. Esta orientação começa a definir-se por
volta da puberdade, entre os 12 e 13 anos. Pode ser mais cedo ou mais tarde,
não há regras fixas, porque a sexualidade humana, tal como a medicina não é uma
ciência exacta.
Cada ser humano é único e maravilhoso na sua diversidade. Há Jovens (quer rapazes, quer raparigas) que
sentem que a sua orientação é claramente heterossexual, sentem-se atraídos pelas
pessoas do sexo oposto, há jovens claramente homossexuais (quer rapazes, quer
raparigas que sentem claramente e cedo a sua atracção por jovens do mesmo sexo)
e há jovens que se sentem atraídos por outros jovens de ambos os sexos (serão
bissexuais toda a vida, passarão por fases, terão paixões e namoros com pessoas
de ambos os sexos, porque valorizam mais o amor do que o género da pessoa amada).
São estes os nossos
filhos, os nossos jovens, que precisam de orientação e aceitação. Precisam de
aceitar a sua identidade, a sua verdade, precisam de compreender quem são e como
são. Precisam de viver a sua verdade, sem preconceitos, sem medo, sem
julgamentos. Com consciência, sem culpa, mas com a noção de não magoar o outro,
nem negar a sua identidade. Precisam dos pais, do seu carinho e da sua
compreensão. Precisam dos professores e do apoio da escola. Precisam dos amigos
e dos colegas. Precisam de dizer. Este sou eu. Sou assim. Mas sou verdadeiro,
honesto comigo e com os outros. Quero viver sem mentiras, Na verdade. Viver a
minha identidade e descobrir o amor e a sexualidade de uma forma bonita e cheia
de afectos.
Quase a acabar esta
crónica, quero contar uma história parecida a tantas outras que todos nós conhecemos
ou vivemos de perto. Tenho um grande amigo nascido há algumas décadas, num
tempo em que o preconceito e intolerância imperavam no nosso pais (tempo longínquo
será?) que durante grande parte da sua vida escondeu a sua orientação sexual, a
sua homossexualidade. O medo de não ser aceite pelos amigos, de perder o
emprego, o medo de dar um desgosto à família, levaram-no a esconder a sua essência,
a sua verdade e viver a vida tal como os outros quereriam dele. Casou, teve uma
filha, cuidou da sua família, respeitou a mulher, foi um bom pai. Finalmente,
perto dos 40 anos, teve coragem e assumiu a sua homossexualidade, divorciou-se
e seguiu a sua vida. A família aceitou, habituou-se à ideia e respeitou a sua
coragem. A filha foi a sua maior apoiante. Hoje, já perto dos “sessentas” é um
avô encantado com o seu neto e é feliz.
No entanto não esquece
nunca a ferida que traz consigo durante toda a vida, quando em criança ao fazer
um desenho em papel quadriculado, a irmã, também ela criança e cruel como as
crianças sabem ser, malandra e desconfiada de que o irmão não era como os
outros meninos, disse ao pai – “Olha o mano a fazer renda, como as meninas”.
Ele só ouviu a frase que lhe ficou na alma para sempre na voz do pai – “Era o
que faltava. Antes morto, que ter um filho “desses”.
Esta história passou-se
noutros tempos, há muitas décadas. ..
Agora falo para os pais e mães. Será que
ainda há preconceito se temos um filho com uma orientação sexual diferente da
nossa?
Falo para os jovens, ainda se sentem-se descriminados, precisam de
esconder a vossa orientação sexual por medo, vergonha dos pais ou da sociedade?
Dedico esta crónica ao
meu amigo que generosamente me ofereceu a sua história para ilustrar as minhas
palavras de hoje.
Nota – eu ainda ia
explicar a sigla LGBTQIAPK
(Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Transgêneros, Queer, Intersexuaais, Assexuados, Poligâmicos / Poliamorosos,
“Kinky”), mas acho que era informação a mais. Fica para a próxima. Voltem cá que eu explico.
Recomendo que vejam dois
filmes já para o próximo tema:
Boys don´t cry, baseado
numa história verídica, de amor, trágica e dolorosa
Pricilla, Rainha do
Deserto, uma comédia divertida, uma caricatura, mas muito séria onde as emoções
humanas estão acima de todos os estereótipos apresentados no filme.
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