Mas para contar a sua história,
tenho de mostrar como a conheci. É isto:
Eles chegam com os seus
enormes bombos e a sua presença destaca-se no meio de todas as cores e animação
das festas onde vão. São de Amarante, mas a sua presença é obrigatória há cerca
de 50 anos no Carnaval de Torres Vedras.
Começam a tocar e o coração do povo
acelera.
A cadência do ritmo, a
forma como os seus corpos fortes e masculinos se confundem com os tambores
enormes levam-nos a um estado de encantamento que nos enraíza, nos conduz às
nossas origens, como se soubéssemos que outrora pertencemos a sociedades
tribais onde os tambores nos chamavam para a festa ou para a guerra. Aqui é a
festa.
O ritmo, o som cada vez
mais forte entra-nos no corpo, agarra-nos ao chão e bate ao som dos corações
cada vez mais rápido. Há crianças e adultos que pulam no meio deles, um pouco a
medo primeiro, depois sabendo que neste círculo mágico formado por estes músicos,
se encontram protegidos por este som de encantamento, que esperámos um ano para
sentir.
E no meio de todos estes
Homens fortes e poderosos que conseguem tocar estes instrumentos que requerem
não só ritmo, harmonia, composição musical, como também uma enorme resistência
física, este ano, surge a Condutora do Grupo ou a Chefe do grupo como ela se denomina,
encontra-se Eugénia, a sua Representante.
Quem és tu Eugénia?
Eugénia é pequenina fisicamente,
tem apenas 26 anos, e diz com uma voz de candura e doçura que contrasta com a
força do som dos bombos, explicando-se “Eu cresci nisto, sem os bombos eu não
era a mesma pessoa ”. E Sorri.
Eugénia estudou, fez
curso Universitário, depois curso de Solicitadora, profissão que exerce
actualmente.
Mas os bombos, são a sua paixão. O grupo chama-se Santa Maria de
Jazente de Amarante e foi fundado pelo seu avô em 1949, Abel Ribeiro.
O seu avô apenas teve filhas mulheres e uma delas, a mãe de Eugénia pegou na paixão do
pai, aprendeu a tocar estes instrumentos de percussão que requerem grande força
e que tradicionalmente estávamos habituados e ver serem tocados por homens, tornando-se ela própria Chefe do Grupo.
Esta paixão foi passada à filha, Eugénia.
Só quem vê de perto as protecções que estes músicos usam nas mãos devido ao
esforço que fazem para tocar com as baquetas nos grandes bombos entende a força
que só pode vir de uma grande paixão interior de nos fazer vibrar de emoção.
O grupo é nacionalmente conhecido
e chamado a tocar em festas por todo o pais, mas também no estrangeiro (França
e Brasil) e outros locais onde há comunidades portuguesas que os solicitam.
A Mãe da Eugénia e ela
própria criaram também um grupo feminino a pedido de muitas meninas e mulheres
que queriam tocar estes instrumentos que nos encantam com a capacidade de sons de que são capazes e não
nos deixam esquecer as nossas tradições– Bombos; Caixas; Concertinas; Acordeões
e gaitas de foles.
São as “Rosas de Santa Maria de Amarante” que por vezes
tocam em conjunto com os músicos do grupo masculino.
-“ Mas como é Eugénia,
seres a condutora, a Chefe de um grupo só de Homens, como estes que trazes
contigo, todos mais fortes e alguns mais velhos que tu?
Eugénia sorri com seu ar
de menina doce responde:
- “Sinto um enorme orgulho
e emoção por continuar a tradição do meu avô e os Homens que tocam e conduzo são
todos amigos, há respeito e camaradagem, sabem que têm de seguir o ritmo e a
música é o mais importante.
Quando tocamos não importa se sou Mulher, seguem as
orientações da Chefe do Grupo, para que tudo saia bem e o povo goste da
actuação."
- “E namorado Eugénia,
como é?”
Grande sorriso desta menina
mulher - “Ah, tenho namorado, faz parte do grupo, foi assim que começou”…e acata as minhas orientações como os outros... e como
se costuma dizer, comigo, vai tudo a “toque de caixa”.
Acabámos as duas a rir, claro.
Acabámos as duas a rir, claro.
Foi assim que a conheci,
vestida com a farda do grupo, calças pretas e camisa vermelha, cujo simbolismo anda não descobriu bem, talvez tenha a ver com a guerra de
antigamente, diz.
Eu acho que tem a ver com a paixão com que toca e com que nos
toca.
Bem fundo. Eu tenho orgulho em Mulheres como ela e vou sentir a falta do som do seu grupo.
Bem fundo. Eu tenho orgulho em Mulheres como ela e vou sentir a falta do som do seu grupo.
Comentários
Enviar um comentário