Desfazendo estereótipos - Ou porque sou Feminista.


Um destes dias conheci uma mulher muito simpática e interessante, jovem, dinâmica, interessada na sua carreira, com vontade de ter sucesso, bonita e tudo e tudo o que uma mulher da geração dos “trintas” aspira.
Esta idade dos “trintas” é engraçada, já não são as minhas meninas da escola secundária cheias de insegurança mas que sabem tudo, já não são as minhas Ex alunas que estão na universidade e vêm contar a excitação de estar num mundo novo e já sabem tudo, mas são as que já começaram a trabalhar (as que têm essa sorte) e já são adultas, Mulheres de corpo inteiro e já sabem tudo.
Gosto delas.

Conversámos de tudo um pouco, de moda, de futilidades, das oportunidades das mulheres e dos homens quando saem das universidades e entram no mercado de trabalho e querem fazer carreira, eu dei a minha opinião sobre a diferença que ainda hoje se sente nas empresas relativamente ao género dos funcionários e das oportunidades e portas que se lhes vão abrindo, ela concordou, que sim, que os homens estão em vantagem em relação às mulheres, a partir de uma certa etapa, eu senti-me em sintonia e falámos do meu blogue.

Ela deu-me alguns conselhos úteis, a saber:

Que eu, para ter sucesso como bloguer  devia escrever sobre coisas que interessassem às pessoas, às mulheres.
 - Tipo, o quê? Pergunto eu?
- Então, por exemplo, escreva sobre coisas que acontecem no dia-a-dia, ou seja, entrou num táxi e aconteceu um episódio engraçado (isto não dá, penso eu, não ando de táxi, tenho um GPS que me leva a todo o lado e se eu me engano não ralha comigo, por isso o adoro); - as actividades que faz com os filhos (não me parece nada interessante que eu conte as mensagens longas que mando aos meus filhos e eles respondem, amorosamente, “fixe mãe, orgulhoso de ti, aqui tudo bem”); - as calças que comprou num saldo, um filme, uma revista, mas escreva assim numa linguagem acessível que as pessoas leiam em qualquer lado e com que se identifiquem.

Eu achei que esta Mulher / Menina estava a ser muito prestável e amorosa, mas como a conversa tinha começado com os direitos das Mulheres eu lá disse:

-Mas eu sou Feminista, escrevo sobre este tema, o Feminismo.

- Ela olhou para mim um pouco espantada e sorriu – “Mas, Feminista, mesmo a sério? … mas. Mas, dá umas "voltinhas" com homens de vez em quando, não?

No início não percebi. Depois achei que lhe tinham incutido o estereótipo de que as Feministas são todas lésbicas porque odeiam os Homens. Não vos vou dizer que isto é mentira, mas posso voltar a este tema mais tarde. Agora quero falar de uma coisa mais importante.

Num segundo, lembrei-me da minha querida Teresa Horta (já vos disse que vou falar dela todos os dias, aguentem-se) que me disse um dia “É hábito, quando dizemos que somos feministas, ou pensam que somos lésbicas ou que queremos matar os homens todos... Haja paciência! Esse estereótipo vem de longe, de anos e anos e anos.”

Então, como nasci professora e tenho este hábito terrível de explicar as coisas, lá expliquei a esta Mulher que estava a dar-me conselhos para ser uma bloguer de sucesso que uma Feminista pode ser Branca, Alta, Gorda, Heterossexual, Chinesa, Lésbica, Negra, Cigana, Rica, Magra, Pintar as unhas dos pés, ou fazer o que bem lhe apetecer. 

Uma Feminista é uma pessoa que defende os direitos das Mulheres e não admite coisas como por exemplo o que aconteceu há uns dias no Tribunal da Relação de Évora em que magistrados afirmam que “Apertar o pescoço não é violência doméstica”, e que o Colectivo de juízes referiu que, para o crime se considerar de violência doméstica é necessário que exista um grau superior de consequências que afecte a dignidade pessoal da vítima, não bastando uma série de crimes cometidos durante uma relação afectiva.”

23 janeiro em várias publicações jornalísticas nacionais

É isto. Um dia destes escreverei sobre coisas que interessem às pessoas



Comentários

  1. Gostava muito que este estado de coisas já fosse pretérito mais-que-perfeito! Mas...como alguns, mais do que outros, sabem, a realidade continua a colocar as pessoas em compartimentos, hermeticamente estanques uns dos outros, em funçao de género, no que aqui nos toca, mas também de cor, credo e proveniências. Como seria bom que, assumidas as diferenças extraordinárias que nos distinguem (mas nao separam), pudessemos falar em igualdade de dignidade!!! Afinal o coração tem a mesma forma! A alma...a mesma vocaçao universal! E dentro de nós ouve-se a mesma nota urgente da vida!!! E tudo...e tal!😉

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    1. Obrigada pela partilha Suzana. É isso mesmo. Aceitar a diferença, abraçá-la, mas não permitir que haja cidadãos de primeira e outros de segunda. Grata pelos teus valores.

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