Geralmente no verão
dá-nos para isto. Tirar fotografias ao mar, comer gelados, desejar ter um
flamingo cor-de-rosa (há dias a minha prima lembrava que as camaras de ar pretas
que usávamos há anos na piscina não eram tão fotogénicas, mas o efeito era o
mesmo…) ler revistas da mesma cor que os flamingos (mas um pouco mais perigosas)
e namorar.
Folheando algumas
revistas para o público feminino, qualquer mulher ficaria completamente
esclarecida sobre apps para encontros
fabulosos, como ter o melhor sexo da sua vida mesmo ao virar da esquina e ainda
melhor - o que querem as mulheres no sexo e no romance e na vida. Além de como
ficar com um corpo de sonho em 4 semanas, aprendendo a cozinhar receitas sem açúcar,
sem glúten, sem ovos, que servem para tirar belas fotos para o Instangram.
Esclarecem-nos as tais
revistas sobre os sites de encontros – São vários, descarrega-se a aplicação no
telemóvel, e rapidamente temos à disposição uma galeria de fotografias que,
acredito, que nem a PJ tem acesso a tantas caras. Depois é só escolher e
esperar que aconteça exactamente o que as revistas nos prometem.
Ao ler as
histórias das publicações coloridas de papel brilhante cheias de textos
(curtinhos, que é verão e temos ainda de ir ali ao mar), ficamos com a ideia de
que é tudo muito fácil. Um encontro ao por do sol, umas bebidas da moda, um jantar
romântico num restaurante onde não há filas, lugar para estacionar o carro…
(não sei onde, que as revistas não indicam parques…) está tudo à pinha, mas há
sempre uma mesa para nós, a acreditar nos deuses do amor e do erotismo.
E ao passarmos os olhos
por essas magnificas pérolas de “jornalismo revisteiro”, que nos dão conta de
relatos “verídicos” de mulheres que contam as suas aventuras, deslumbramo-nos
com a facilidade das noites escaldantes de aventuras sexuais com homens maravilhosos,
altos como o mar, de olhos profundos como o mar, e misteriosos e interessantes
como o mar. E os relatos acabam invariavelmente da mesma forma “foi a melhor
noite da minha vida, nem consigo contar quantos orgasmos tive… nunca me
esquecerei”.
Pois, digo eu, a serem verdade os relatos, abençoadas Mulheres que
têm orgasmos incontáveis com desconhecidos e abençoados Homens que por ai andam
lindos como o mar. Mas será que estes relatos não são fruto do imaginário e da
escrita delirante de alguém que só não escreve romances e fica na história da
literatura por algum percalço na vida?
Imagino inúmeras mulheres
a ler estas revistas e a pensar… mas afinal o que se passa de errado comigo?
Porque não encontro estes homens maravilhosos nas apps do meu telemóvel? Porque
é que isto só acontece às outras?
Acontecerá a algumas, não
sejamos pessimistas. E as mulheres hoje em dia sabem bem o que querem. E os
homens até sabem o que querem as mulheres. E as mulheres até sabem o que querem
os homens. Então porque não somos todos felizes e estamos todos apaixonados a
ter dias e noites de romance, sexo e felicidade suprema?
Talvez porque a vida não
é um filme e não temos ninguém que escreva o guião por nós. Talvez porque somos
todos diferentes, Mulheres e Homens, e cada um de nós tem uma sensibilidade e
uma alma única. E talvez porque de tão empenhados na
conquista da felicidade nos esqueçamos de olhar para nós e pensarmos – o que
quero eu, o que quero eu dar, que caminho me apetece e posso seguir?
Não é verdade a ideia de
que os homens só querem sexo e as mulheres só querem amor. Todos nós, seres
humanos queremos uma coisa – conexão com o outro. Somos seres sociais e
precisamos da presença do outro, não para nos realizarmos como pessoas, nem
para nos complementarmos, porque somos Unos, cada um de nós, mas para nos partilharmos
como Homens e Mulheres.
Seja a nível espiritual, intelectual
ou físico. Mas revistas, os media, as redes sociais induzem-nos a pensar que um
encontro entre duas pessoas terá de ter obrigatoriamente a componente física,
sensual e sexual.
O sexo estará demasiado
valorizado? Sim e não. Não, se o encararmos como uma parte da conexão, do
encontro com o outro e connosco próprios. Sim, se fizermos dele um objectivo
primal ou se o rejeitarmos liminarmente por vergonha ou preconceito.
Cada Mulher é única na
sua intimidade e sensualidade. Cada Mulher tem de descobrir sem preconceitos o
que dispara a sua libido, como gosta de ser tocada, olhada, ouvida, amada. É
livre de escolher os parceiros que toquem a sua alma, o seu corpo, a sua mente.
Com Sexo ou sem ele. Com noites de romance escaldante ou com conversas
intermináveis de cumplicidade.
Sexo? Pois sim, parece fácil.
Cumplicidade, partilha,
confiança, intimidade, presença? Sim, nada fácil, dá trabalho, mas não valerá a pena lutar por isso?
Reprodução de obras de Amy Judd
Identifico-me muito com o que diz nos últimos três parágrafos.Hoje há tanta superficialidade que quase ninguém se dá ao trabalho de sentir e conectar-se....
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