Sou professora do ensino
secundário. E. para quem não sabe, temos na escola um programa emanado no ME
que se chama Plano Sexual da Turma (Educação Sexual em Meio Escolar), com temas
adequados (mais ou menos, enfim) para cada ano, e propostas (adequadas, enfim) para
cada ano lectivo. Alguns professores, cheios de boa vontade lá se oferecem para
dar esses temas nas suas aulas, sejam eles professores de biologia, de música,
de artes plásticas, de química ou de português como eu.
Reconheço que não é um
tema fácil para os professores abordarem na escola.
Toda a gente pensa que os
adolescentes sabem tudo sobre sexo, mas aviso-vos já, que não sabem nada.
Aliás, os adultos também sabem pouco, embora as revistas cor de rosa que povoam
os quiosques e papelarias estejam repletas de artigos de “Como atingir orgasmos
múltiplos em 10 minutos” “Ou como apimentar a sua relação” “ou qual a melhor
posição sexual para atingir o clímax”.. E outra pérolas, como se o acto amoroso
fosse um número de malabarismo circense. Mas adiante, que deste assunto se
falará em crónicas futuras.
Aqui a vossa amiga (que fez formação académica no tema) oferece-se sempre para dar as referidas aulas do
Plano Sexual, e alguns professores arrepiam-se muito, mas a maioria fica muito
aliviada. Faço uma reunião com os Pais dos alunos e explico o que vou abordar com
os filhos e educandos deles, pergunto se estão de acordo, se têm algum problema
que eu aborde os temas e as respostas são sempre estas:
– “ Por favor,
professora, explique, explique tudo, é um favor que nos faz, eles precisam de saber!”
(O que me leva a crer que os pais também não sabem lá muito bem como abordar a questão
da sexualidade humana com os meninos.)
Bem. Um dia vos
explicarei o que se passa nessas 5 ou 6 aulas em que traço um plano de acção e
abordo de acordo com a turma algumas questões da sexualidade humana (de acordo
com a idade e características da turma). Num desses anos, na aula a seguir a
terminar o plano, entrei na sala e disse á turma:
- “Bem, terminou o plano
do tema da Educação Sexual, agora vamos voltar ao programa de português” (que
devia ser orações subordinadas, ou conjunções, ou o Sermão de santo António ao
Peixes, algo assim) e uma menina diz… -“Não por favor, vamos voltar ao tema…”
- “Mas queres voltar ao
tema da Educação Sexual?” - Pergunto eu.
- “Não, diz a menina,
Vamos falar da Vida, professora!”
É isto. É isto que os
jovens precisam. Falar da vida, perceber o que é isto da vida onde estão a
entrar, a vida adulta que é tão difícil para eles, que passam de repente de
brincar com bonecas para um mundo adulto e confuso, que lhes passa tantas
mensagens contraditórias.
O sexo, a educação sexual
é a educação para a sensualidade, para o respeito pelos outros, para a relação
com os outros, é a educação para o amor, para a vida. A Educação sexual é a educação
para os afectos, para o despertar da identidade de cada um, para o
reconhecimento da personalidade de cada um e o despertar a consciência da
aceitação, do amor e do respeito por si e pelos outros seres humanos. É saber
dizer não e saber dizer sim. O Sexo é o amor em consciência.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarExcelente tema, infelizmente tão pouco falado em casa e nas escolas.
ResponderEliminarObrigada pelo comentário Helena. Vou voltar a este tema muitas vezes. Vou abordá-lo para os jovens e para os pais. A educação sexual faz parte da vida, faz parte da educação do ser humano como um todo, só assim Homens e Mulheres se respeitarão mutuamente, se se compreenderem e se souberem amar.
EliminarEstou a adorar o blog! Parabéns!
ResponderEliminarCostumo dizer aos meus filhos e sobrinhos nesta matéria que, para além da biologia, saúde e "performance", a sexualidade mexe com as nossas emoções. E estas podem ser tão diferentes como amor, desapego, pertença, paixão, amizade, "química", incerteza, reconhecimento, afecto, solidão, estima, risco. Ter vontade e consciência do acto e do que ele envolve para o próprio e para o parceiro é essencial. Ambos se devem certificar que estão "a jogar limpo", que não mentem a si próprios nem ao outro. E termino sempre dizendo que o acto sexual com amor é superior, inigualável e mágico.
ResponderEliminarO Acto sexual com Amor é sublime e mágico comentador anónimo, obrigada. A Grande questão que se coloca aos nossos jovens reside na enorme confusão em que os adultos também se encontram. Nunca se falou tanto de sexo como nos nossos dias (revistas, telenovelas, televisão, anúncios) e o acto sexual aparece apenas como uma performance em que cada um tem de mostrar os seus atributos estereotipados por artigos de revistas cor-de-rosa ou ainda noutro registo - a pornografia que os jovens vêem. Os adultos estão confusos com toda esta informação, porque é tão falsa como os produtos anunciados para emagrecer 10 quilos em duas semanas. E os jovens têm o corpo em transformação, hormonas por todo o lado a transmitir-lhes sensações que eles nem sempre percebem e sentimentos e emoções que não conseguem identificar. O Amor e o Sexo estão ligados, sim senhor. Mas mais do que tudo, é a ternura, é o afecto, é o riso, é o choro, é o ouvir está tudo bem, tu és normal, vais crescer, agora dói, mas todos os jovens precisam de alguém que lhes dê a mão para passarem esta ponte da adolescência. Eles sobrevivem, mas por vezes ficam grandes cicatrizes, invisíveis.
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